Se a luta Antimanicomial não existisse a gente teria que inventá-la!
Bom, seria uma ótima alusão ou adaptação de outros exemplos de coisas boas
nascidas nesse mundo, tão complexo e contraditório. Assim, um movimento que se
reinventa não perdendo a dimensão da sua realidade é o que constitui na cidade
de Belo Horizonte uma das maiores expressões político-culturais que já se foi
testemunha.
Faz mais ou menos quinze anos que alguns trabalhadores da saúde mental
do Brasil, unidos a usuários e familiares de pessoas com sofrimento mental construíram
uma nova forma de lidar com aquilo que a razão não é capaz de dar vazão; e, com
o propósito de marcharem numa luta e num contentamento diferente do tratamento
da loucura, abriram as portas dos manicômios e começaram a criar novos formatos
para a expressão através da linguagem, através das formas, e alucinações para o
tido “desvio” do real.
A luta Anitmanicomial em Belo Horizonte nesse meio sobrevive, mesmo que
acompanhando duramente um pensamento que ainda teima em insistir na privação da
liberdade e na segregação do delírio, dando passos importantes na formação, na
intervenção política, na ocupação dos espaços da cidade (diga-se cada vez mais
cerceada e privatizada) pelos que foram dela separados durante anos, privados
dos direitos fundamentais, alijados da possibilidade de elaboração de suas
angústias, desejos e realidades dissonantes.
Belo Horizonte é uma referência no Brasil na construção de uma política
de saúde mental que se alicerça nos princípios do SUS, tendo como expressão
fundante a territorialidade e um profundo engajamento de inúmeras pessoas para
que Cersam’s (Centros de Referência em Saúde Mental), Centros de Convivência, Cersam AD (Álcool
e Drogas), Residências Terapêuticas e outros equipamentos possam ser espaços de
possibilidade de convivência com o sofrimento mental. Que sejam vínculos do
real que não apagam o inconsciente, espaços esses cada dia mais solicitados
pelo movimento estudantil a serem ocupados na formação pelos estudantes. Luta
essa que se trava nos cotidianos da formação em saúde mental em todas as
Universidades, e a UFMG não é exceção desse processo. Se a prática é repensada,
é necessário repensar também a formação.
Se por um lado a luta feita institucionalmente é complexa e cotidiana,
na rua a luta antimanicomial é expressa na circulação dos usuários por espaços
públicos culturais, por outros serviços que lhes são direitos, e pela
verdadeira necessidade de um vínculo que seja construído através da família, do
Estado e da sociedade civil, que é convidada a se solidarizar e mudar a
expressão do pensamento em relação à palavra do louco.
A maior manifestação dessa luta, em Belo Horizonte, se
dá nas ruas todos os dias 18 de maio; e, é justamente pela construção desse
espaço de sensibilização que surgem e ressurgem propostas de formação, de
disputas políticas e de pensamento que a cada dia vão favorecendo, mesmo em
meio a várias tentativas de retroceder nos avanços, a relação e vivência
concreta da loucura na cidade que deve ser cada dia consquistada por todos e
todas.
Com o sentido de sensibilizar, o dia 18 de maio é o de estar na rua, o
louco mesmo, com a sua cara, com a sua expressão e com a sua voz! Colocando o
samba composto por eles mesmos, fantasiado e colorido a partir das oficinas
realizadas nos centros de convivência, e dando a cor e o jeito que só a loucura
pode expressar para revolucionar uma realidade que sempre pediu a privação de
direitos e liberdades.
Neste ano de 2012 esse movimento homenageia o SUS e todas as suas
conquistas, provando que é necessário lutar todo dia para SUStentar (dessa forma mesmo, a temática deste ano) uma diferença
que só aquele que convive com as vozes, as visões, as dores e prazeres do ser
louco pode expressar na Avenida. A luta está aí, e o convite está feito para a
comunidade acadêmica marchar junto aos usuários dos serviços de saúde mental.
Pois somente SUStentando a
possibilidade do diálogo do diferente é possível construir uma cidade verdadeira
e cada dia mais democrática.
Por uma
sociedade sem manicômios!
Muito, muito que bem!!!!!
ResponderExcluirAté o Dezoito!!
Beijo grande!!
Marta!